A deriva Urbana começou partindo da praça do coco, principal ponto turístico da cidade de Macapá, logo cedo, contemplando o ponto de orvalho póstumo à breve chuva que por ali passou e o clima ameno do horário. Entre casuais atletas do cotidiano e ambulantes, caminhamos em direção ao complexo do Araxá.
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skyline - vista da praça do coco |
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Praça Isaac Zagury |
A tímida presença de edificações verticais começa a surgir no skyline da orla da cidade, insuficiente para tirarmos os olhos do chão, infelizmente malcuidado pela população, onde nem a poesia de rua consegue amenizar. Afinal, quem é o marginal?
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Complexo Beira-Rio |
A cidade recebe bem quem passa por ela, oferece histórias e mitologias, por todo o trajeto do contorno da cidade observa-se o convite para sentar-se e contemplar a poesia através de elementos urbanos pouco percebidos pelos próprios moradores transeuntes. Elementos apagados por outras grandezas monumentais e pelo infinito horizonte.
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Praça do Mercado Central |
Todos sabem como é olhar o rio pela cidade, mas poucos sabem como é olhar a cidade pelo rio. É um skyline pouco contemplado, onde poucos sabem por onde apreciar a vista, mais por falta de pontos urbanos específicos do que por vontade. Tendo em vista essa preocupação, a deriva urbana parte de encontro à rua menos movimentada da cidade, o Rio Amazonas, local de rito, mito e cultura. Por onde entra e sai bens de consumo culturais que não podem faltar na vida do amapaense, mas valorizado apenas para contemplação.
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Skyline do bairro Santa Inês |
O professor José Alberto Tostes indagando um amigo forasteiro sobre o Rio Amazonas, recebe a afirmação de que "a cidade está de costas para o rio".
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Rampa do Santa Inês
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Rampa do Santa Inês |
De fato, ao inverter a relação entre observador e observado através de um olhar estrangeiro, logo percebe-se que as linhas que contornam a beira rio de Macapá é um limite socioeconômico desnecessário e preocupante. Afinal, o Rio Amazonas é a nossa identidade fluvial mais característica, tudo o que temos em nossa cultura parte da localização geográfica agraciada pelo rio.
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Rampa de embarque e desembarque do Santa Inês |
Durante a realização da deriva, os participantes procuraram observar e deixar-se levar pelos diálogos existentes entre a cidade e o rio. Caminhando pela brisa do quebra-mar, a deriva afetou o psíquico e emocional dos participantes, sempre encantados pelas novas paisagens que surgiam pelos clichês do trajeto agora recriado por um olhar de andarilho.
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Orla do Santa Inês |
As reflexões sopravam o anseio de se relacionar com o horizonte, onde a população que sobrevive dessa relação exala seu amor pela própria origem e transparece um certo saudosismo de uma cultura ribeirinha agora engolida pela nova configuração econômica e social de cidade.
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Orla do Santa Inês |
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Muros da rua André de Oliveira Costa |
A sinestesia é a essência de Macapá, que para entender sua paisagem, adversidades e contornos, deve-se observar seu rio, ouvir seus poetas, sentir sua brisa e entregar-se a sua complexidade com olhos de estrangeiro. Perder-se pelo entorno, pelo meio, vielas e avenidas. O banal esconde a cidade.
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Orla do Complexo do Araxá |
Perder-se continua sendo a melhor forma de encontrar-se.
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Partida da rampa do Santa Inês |
Autor do texto: Rubens Gomes.
Imagens: Kleber Azevedo, Fabiana Nascimento, Adriely Lima, Afonso Henrique, Hendrew Adalberto, Ygor Hítallo, Rubens Gomes, Neiva Castro, Melquezedeque Gama, Lucas César, Salomão Oliveira.
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