terça-feira, 20 de outubro de 2015

ESSE RIO É MINHA RUA

A deriva Urbana começou partindo da praça do coco, principal ponto turístico da cidade de Macapá, logo cedo, contemplando o ponto de orvalho póstumo à breve chuva que por ali passou e o clima ameno do horário. Entre casuais atletas do cotidiano e ambulantes, caminhamos em direção ao complexo do Araxá. 

skyline - vista da praça do coco
Praça Isaac Zagury

A tímida presença de edificações verticais começa a surgir no skyline da orla da cidade, insuficiente para tirarmos os olhos do chão, infelizmente malcuidado pela população, onde nem a poesia de rua consegue amenizar. Afinal, quem é o marginal?

Complexo Beira-Rio
A cidade recebe bem quem passa por ela, oferece histórias e mitologias, por todo o trajeto do contorno da cidade observa-se o convite para sentar-se e contemplar a poesia através de elementos urbanos pouco percebidos pelos próprios moradores transeuntes. Elementos apagados por outras grandezas monumentais e pelo infinito horizonte.
Praça do Mercado Central
Todos sabem como é olhar o rio pela cidade, mas poucos sabem como é olhar a cidade pelo rio. É um skyline pouco contemplado, onde poucos sabem por onde apreciar a vista, mais por falta de pontos urbanos específicos do que por vontade. Tendo em vista essa preocupação, a deriva urbana parte de encontro à rua menos movimentada da cidade, o Rio Amazonas, local de rito, mito e cultura. Por onde entra e sai bens de consumo culturais que não podem faltar na vida do amapaense, mas valorizado apenas para contemplação.

Skyline do bairro Santa Inês

O professor José Alberto Tostes indagando um amigo forasteiro sobre o Rio Amazonas, recebe a afirmação de que "a cidade está de costas para o rio".

Rampa do Santa Inês
Rampa do Santa Inês

De fato, ao inverter a relação entre observador e observado através de um olhar estrangeiro, logo percebe-se que as linhas que contornam a beira rio de Macapá é um limite socioeconômico desnecessário e preocupante. Afinal, o Rio Amazonas é a nossa identidade fluvial mais característica, tudo o que temos em nossa cultura parte da localização geográfica agraciada pelo rio.

Rampa de embarque e desembarque do Santa Inês

Durante a realização da deriva, os participantes procuraram observar e deixar-se levar pelos diálogos existentes entre a cidade e o rio. Caminhando pela brisa do quebra-mar, a deriva afetou o psíquico e emocional dos participantes, sempre encantados pelas novas paisagens que surgiam pelos clichês do trajeto agora recriado por um olhar de andarilho. 

Orla do Santa Inês

As reflexões sopravam o anseio de se relacionar com o horizonte, onde a população que sobrevive dessa relação exala seu amor pela própria origem e transparece um certo saudosismo de uma cultura ribeirinha agora engolida pela nova configuração econômica e social de cidade.

Orla do Santa Inês
Muros da rua André de Oliveira Costa

A sinestesia é a essência de Macapá, que para entender sua paisagem, adversidades e contornos, deve-se observar seu rio, ouvir seus poetas, sentir sua brisa e entregar-se a sua complexidade com olhos de estrangeiro. Perder-se pelo entorno, pelo meio, vielas e avenidas. O banal esconde a cidade. 

Orla do Complexo do Araxá

Perder-se continua sendo a melhor forma de encontrar-se.


Partida da rampa do Santa Inês



Autor do texto: Rubens Gomes.

Imagens: Kleber Azevedo, Fabiana Nascimento, Adriely Lima, Afonso Henrique, Hendrew Adalberto, Ygor Hítallo, Rubens Gomes, Neiva Castro, Melquezedeque Gama, Lucas César, Salomão Oliveira.







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